sábado, 14 de setembro de 2013

Crises existenciais de uma criança de oito anos

A conversa começou mais ou menos assim:

- Óoh madrinha, sabes que a minha mãe gostava que eu fosse uma menina?
- Oh filho, porque é que dizes isso?
- Eu também gostava de ser uma menina.
- Gostavas? Porquê? - perguntei eu intrigada.
- Para usar totós.
Um silêncio brutal para eu processar a resposta e perceber o que havia de responder de seguida. Relativizei.
- Mas olha, a prima é menina e odeia totós.
- Mas eu gosto tanto de totós, são tão giros! Um dia lá na escola a ... estava a fazer totós às meninas e sobraram totós, e depois ela pôs no ... e eu também queria.
Optei por não responder. Mas aquilo ainda lhe ficou na garganta.
- Sabes, madrinha, a minha mãe gostava que eu fosse uma menina e o meu pai gostava que eu fosse um menino.
- Mas quem é que te disse isso?
- Mas eu gostava era de ser uma menina.
Aqui já comecei a ficar preocupada, porque comecei a ficar sem saber o que dizer, o que responder.
- Mas é só por causa dos totós? É que se é pelos totós podes sempre usar no Carnaval...

A conversa teve de ficar por aqui porque fomos interrompidos.... mas perturbou-me imenso!
Perturbou-me especialmente porque no dia anterior tinha visto uma série cujo tema era mesmo à volta do tema Transtorno de Identidade de Gênero da Infância.

Fiquei mais preocupada em saber se ele se sente bem consigo mesmo do que com qualquer outra questão. 
Não sei se estive à altura da conversa e mais tarde dei comigo a pensar.... bolas, como se está preparada para responder a questões destas como mãe?